domingo, outubro 14, 2007

Toda aquela transa de ciganos, não aconteceu não deu em nada.

Quando Irene partiu me deixando meia dúzia de trapos e a solidão inteira como lembrança do que foi um dia amor percebi o quanto tudo aquilo tinha mudado, tanto meu envelhecer acelerado como a ordem das coisas. Começara bem antes dela chegar, quando notei minhas primeiras sentenças ermitivas e contraditórias, nela a companhia doce e pacifica que poderia apaziguar a velocidade destruidora dos meus dias semanais e a solidão secular que passava por mim em horinhas de descanso, talvez tenha sido num cuidado ou desvio que foi crescendo em mim o amor que nunca tive pelas coisas, o amor cômodo e silencioso que se mantinha na distância paralela e nos encontros apaixonados e fugidios, que logo deram lugar a escassos encontros mais brandos dado a casais em bodas, levando em conta meu envelhecer acelerado, mas tínhamos ali uma relação que já durava uns bons anos sem ter passado dois semestres por inteiro e a acomodação que chegava junto com o costume, os afazeres juvenis, o trabalho que consome a vida e logo o cansaço quando se deixa pra de manhã o amor, o café e ir trabalhar do mesmo modo que dormiu, pegando a estrada de voltas e rotinas. Por caminhos diversos minhas tendências ressurgiam e calmamente foram tomando seus postos quando me vi entre trapos e uma vaga lembrança, dando conta que ao dormir a ausência de Irene durava mais que antes, que a escassa comunicação ia diminuindo gradualmente como o fervor das palavras antes descomedidas, eu já estava velho demais para tais manifestações de atenção mas num arroubo ainda enviei protestos tímidos e logo os cessei percebendo que não partia de mim e sim de um impulso, depois as velhas manias e meu estado de não estar, quem sabe era tarde demais e não prevendo os por maiores calcei as chinelas e liguei o rádio.