sexta-feira, janeiro 30, 2009

O grau de publicidade que darei a minha angústia primeira

"1. X ... saiu de férias sem mim, e não deu nenhum sinal de vida desde a sua partida: acidente? Greve dos Correios? Indiferença? Tática de distância? Exercício de um querer-viver passageiro ("sua juventude gritante, ele não ouve") ou simples inôcencia? Cada vez mais me angustio, passo por todos os atos do roteiro de esperada. Mas, assim que X... reaparecer de uma maneira ou de outra, pois não pode deixar de fazê-lo ( pensamento que deveria imediatamente tornar vã toda angústia), que lhe dei? Devo esconder dele minha pertubação? - que já passou ( "como vai você")? Fazê-la explodir agressivamente ( " Não está certo, você bem que poderia...") ou dramaticamente ( " Que preocupação você me deu")? Ou ainda, deixar passar delicadamente essa pertubação, ligeiramente, para torna-la conhecida sem alingir o outro ( "Eu estava um pouco preocupado...") Uma segunda angústia toma conta de mim, que de ter que decidir sobre o grau de publicidade que darei a minha angústia primeira."

Roland Barthes